“ALMA é nosso espírito, aí se você morrer a nossa alma vai pro céu...”
Nilton Henrique | 1º Ano do Ensino Fundamental I
“O CORPO é o impedimento marcado...”
Lucas | Pré II
“A FILOSOFIA serve pra gente aprender as coisas, pra trabalhar muito com a cabeça...”
Lara | 1º Ano do Ensino Fundamental I
Este dicionário transdisciplinar é um belo livro com textos e ilustrações de 58 crianças de 4 a 12 anos das turmas do Pré II ao 5º ano do Ensino Fundamental I de 2018 do Colégio Divina Providência, no Rio de Janeiro, numa oficina de filosofia com crianças iniciada em 2014 e já rendeu frutos como o livro Tudo é filosofia.
Assim disseram as crianças nos traz uma metodologia de trabalho didático de conceitos complexos com crianças de diferentes idades, fazendo um "origami do pensar". As palavras e as ideias são apresentadas com ilustrações e argumentação numa visão multicultural, o que leva a intepretações pelos estudantes em forma de diálogos, textos e desenhos. Temas como ÉTICA, HUMANISMO ou RAZÃO são tratados com proximidade e liberdade, respeitando as diversidades uns dos outros, com resultados surpreendentes na construção de um conhecimento coletivo.
O livro é composto da parte inicial com a apresentação do método pedagógico, uma reflexão de 16 professores e outros atores do processo educacional sobre a gênese da palavra e das linguagens, a parte central tem os 26 verbetes filosóficos de A a Z, sempre apresentando o conceito em foco, uma citação de autor consagrado, a tradução/visão das palavras nas línguas/culturas Guarani, Yorubá, Árabe e Latina, a grafia das letras em diversos alfabetos e a interpretação das crianças em frases e desenhos coloridos.
A parte final tem a lista dos estudantes participantes, uma visão fotográfica do cotidiano escolar e a trajetória dos membros da equipe de pesquisa, terminando com as fontes de referências. Espalhado por todo o livro, um extra: a História da Escrita, onde o editor faz a narrativa ilustrada de como esta grande invenção saiu de sua mais remota origem nas pinturas das cavernas até mundo digital do Século XXI.
Professor de Filosofia e História. Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Urbanismo e Planejamento (IPPUR/UFRJ). Realizou estágio de Doutorado Sanduíche em Ciência da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Dep. Letras e Literatura /UFRJ) e em Música pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Música da UFRJ. Mestre em Relações Étnico-raciais pelo Programa de Pós-Graduação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (PPRER/CEFET-RJ). Graduado nas áreas de Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IFCH/UERJ), e em História pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Veiga de Almeida (UVA-RJ).
É organizador e autor do livro Sambo, logo Penso: Afroperspectivas filosóficas para pensar o samba, premiado e publicado pela Biblioteca Nacional em coedição com a Hexis Editora. Professor pesquisador que integra os grupos de pesquisa credenciados pelo CNPq: Poder simbólico no espaço (LAB/ ESPAÇO-IPPUR/UFRJ), Afrosin (Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interseções/ Instituto Multidisciplinar da UFRRJ), Racismo e Sociedade (Reflexões teórico-críticas sobre o fenômeno racial no Ocidente) do Colégio Federal Pedro II (CPII) e do Laboratório de Licenciatura e Pesquisa sobre o Ensino de Filosofia – LLPEFIL/UERJ.
A Editora
HEXIS é um selo editorial da Ali Comunicação e Marketing, empresa fundada em 2009, voltada para comunicação empresarial e edição de livros. A HEXIS é dedicada às Humanidades, voltada especialmente para o público diletante e universitário, interessado em Ciências Humanas, Filosofia e Letras.
Hexis, em grego arcaico, significa disposição ética ou hábito. E isso nos diz respeito enquanto editora, pois a nossa finalidade é cultivar com ética e disposição um hábito a ser ampliado em nossa cultura: a produção e difusão de ideias.
Atualmente conta com cerca de 20 títulos publicados, três deles em coedição com a Biblioteca Nacional e outros com o apoio de instituições como Petrobras, IFCS/UFRJ e PUC-Rio.
Orelha do livro “Assim disseram as crianças”
A leitura das frases das crianças que compõem esse Dicionário filosófico contém um elemento perturbador que nos leva a pensar o quão canhestro, pra não dizer nefasto, é o nosso modelo pedagógico. O problema das práticas pedagógicas convencionais é que elas não se dão conta de que a criança é um ser sensorial. A criança detém um conhecimento imediato de tudo o que a cerca; não carece de "definição". Toda definição já nasce moribunda, pois desconhece o sentido real das coisas, já que elimina do ato do conhecimento toda concretude que dá vida as coisas que nos cercam. É por isso que, quando perguntada sobre o que é o Belo, a menina Vitória responde "é uma flor", ou faz como Pedro Augusto que diz "brincar de pique-pega". Há algo de desconcertante nessas respostas, elas nos remetem a materialidade das coisas, tal como são apreendidas por nossa sensibilidade; não há lugar aí para a mediação pelo conceito. Foi uma perturbação de tal magnitude que fez com que Sócrates repreendesse aos Sofistas, acusando-os de responderem com exemplos, em vez de dar as definições desejadas. Toda definição é menos, é subtrativa; o que lhe falta é a materialidade sensorial que fazem com que as coisas sejam o que são. Que maravilha a resposta dada pela menina Manuela quando diz que "o belo é arroz com ovo". Nada mais belo, nada mais pleno de sentido e significação do que "arroz com ovo", principalmente quando se está varado de fome.
A sensação, a percepção sensorial, de tudo o que nos rodeia é uma provocação para o espírito, é assim que adentramos ao pensamento, somos tragados pela "vertigem do pensamento" como disse Alcebíades no Banquete de Platão. Como não rir quando o jovem Lucas diz que "O corpo é o impedimento marcado", ou então quando Zeus criança diz "Nossa mente pensa e o nosso corpo pula", ou quando a jovem Carolina agita o seu corpo pra exprimir o que ela entende por "Corpo". As respostas das crianças são provocações do espírito que forçam o pensamento. A criança é um efeito sofístico, seus enunciados são destituídos de qualquer condição de Verdade, são evocações de Problemas... "A dialética esconde o que a verdade não diz", quanto humor nesse enunciado do jovem Zeus.
O trabalho levado a cabo pelo Prof. Wallace Lopes junto aos estudantes do ensino fundamental é o exemplo de que é preciso deslocar o acento de nossas pedagogias. Nosso modelo pedagógico está calcado no modelo disciplinar da virada do Séc. XVIII para o Séc. XIX. O mundo mudou, as necessidades mudaram. Quanta estupidez em querer adequar as nossas crianças a um modelo disciplinar atávico e nauseabundo. É preciso trazer de volta às salas de aula o espírito provocativo que sempre orientou o pensamento. Essa é a lição que podemos tirar do método de trabalho desenvolvido pelo Prof. Wallace Lopes. É preciso que uma aula gere um desconforto no espírito. As provocações suscitadas pelos Sofistas, o incômodo gerado por suas aporias, orientaram a História da Filosofia desde Platão. Assim sendo, fiquemos com a provocação do jovem sofista Nilton Henrique: "A alma é o nosso cocô".
Fiquem à vontade e se deliciem com a leitura deste livro, com suas páginas de humor cáustico próprio da inocência das crianças.
Professor Ricardo Cezar Cardoso
Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Mestre em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.